sábado, 29 de agosto de 2009

Rota de Colisão

Bruno Scuissiatto



O estopim foi acesso por Hector Babenco em 1981 com Pixote – A Lei do Mais Fraco. Passado pouco mais de duas décadas o diretor nos apresentou Carandiru. Anterior a este tivemos Cidade de Deus, do diretor Fernando Meirelles. Porém, foi com o longa Tropa de Elite, de José Padilha, lançado em 2006 que o cinema policial ganhou discussões além das fronteiras das mesas redondas cinéfilas.
Chegamos a 2009 e acaba de chegar às locadoras de todo país Rota Comando, um filme do estreante diretor Elias Junior. Orçado com apenas 550 mil reais, um valor distante de uma produção cinematográfica, o longa tem 2h14, e foi uma adaptação do livro Matar ou Morrer de Conte Lopes, atualmente deputado estadual pelo estado de São Paulo, mas que anteriormente foi capitão da Rota.
A ação do filme se concentra nos habituais crimes e perversidades presentes na cidade: crimes, trafico de drogas, estupros e logicamente o efetivo do batalhão de choque da Polícia Militar de São Paulo.
Não estabelecer proximidades entre Rota Comando e Tropa de Elite é aparentemente superficial demais, pois ambos são adaptações de livros escritos por comandantes da ROTA e BOPE. E, a concentração das cenas é envolta aos comandantes e suas equipes, na tarefa de eliminar os crimes e proteger a cidade.
Lançado com diretamente para as locadoras, o longa saiu com uma tiragem de 20 mil, porém se acredita que o número de cópias seja muito maior pela pirataria na cidade de São Paulo.
O filão que ficou adormecido por quase vinte anos, se tornou um mercado altamente rentável para o cinema nacional. Assuntos que agradam imensamente o público presente em salas de cinema, ou mesmo em casa, em suas leituras muitas vezes estáticas, e também as discussões mais amplas de ordem sociológica feitas sempre em torno destas produções. Se o termo “favela movie” ganhou força com Cidade de Deus e Cidade dos Homens, com Tropa de Elite e o novo Rota Comando ficamos com o termo “PM movie”. Além do cinema, a televisão e o teatro tem apresentado nos últimos anos produções baseadas nestes filmes, ou mesmo nos temas, basta recordar do Força Tarefa e a Lei é o Crime, e da excelente montagem teatral Salmo 91 (adaptação do livro Estação Carandiru).
A fórmula do cinema policial nacional esta montada, resta saber se a equação será cumprida a regra do que se espera de um bom filme: boas interpretações, montagens e fotografia. De resto ficamos com a imagem do cinema policial, resta saber se não o bastardo.





segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Garapa

Bruno Scuissiatto






Desta vez o plano de ação não é o Rio de Janeiro com suas orlas belíssimas, favelas que merecem ser chamadas de neofavelas, muito menos um comandante que tenta abrir os olhos da corporação para a corrupção dentro da PM. Após a fórmula vitoriosa do “violência movie”, o diretor José Padilha lança Garapa, um documentário social sobre à fome do ponto de vista de quem realmente a sente.
A produção começou a ser concebida em 2001 durante uma conversa entre Padilha e seu sócio na Zazen Produções, Marcos Prado. Porém precisou ser interrompida após a liberação do edital para a produção do longa Tropa de Elite.
Com a duração de 110 minutos, Garapa traduz de maneira contundente a situação de precariedade de muitas famílias no país. Parecemos que ao assistirmos o filme voltamos às produções realizadas durante o Cinema Novo, principalmente ao filme Vidas Secas, adaptação do romance homônimo de Graciliano Ramos realizado pelo diretor Nelson Pereira Santos em 1963. Fatores não faltam: crítica da realidade brasileira, som mono, fotografia em preto e branco.
Se em Ônibus 174 o diretor precisou apenas ligar a sua câmera na janela do seu escritório e captar as mais de quatro horas e meia do seqüestro, em Garapa ele precisou se dirigir até o Ceará, lugar onde acompanhou a saga de três famílias. O processo para a montagem foi à gravação de mais de 45 horas. (vide sinopse abaixo)
A curiosidade sobre a produção do filme é que ela foi formada apenas por cinco profissionais que estiveram no nordeste. O contato com ações não governamentais da região é que escolheu as famílias para serem retratas no documentário.
O nome do documentário é intencional, pois Garapa é uma mistura de água com açúcar, ou rapadura, preparada pelas famílias para alimentar as crianças.
Mais uma vez Padilha consegue fazer com um documentário a realidade superar a ficção.


Segundo a ONU, mais de 920 milhões de pessoas sofrem de fome crônica no mundo. O impacto desses números depende da nossa compreensão do que significa “passar fome”. Geralmente, os meios de comunicação discutem a partir de uma perspectiva macroscópica, debatendo as causas ambientais, geográficas, econômicas e políticas da fome. Embora este debate seja fundamental, continuamos, no entanto, sem saber como é a vida das pessoas que passam fome. Para que se compreenda o real significado do problema, é necessário conhecê-lo de perto.
GARAPA é o resultado dessa preocupação. O filme é fruto de mais de 45 horas de material filmado por uma pequena equipe que, durante quatro semanas, acompanhou o cotidiano de três famílias no estado do Ceará.
À frente dessas famílias estão Rosa, Robertina e Lúcia – mulheres que, diante das condições mais adversas buscam estratégias de sobrevivência.

Link do site oficial do documentário.

http://www.garapaofilme.com.br/