quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Música e cinema: união mais que perfeita

Rosenéia do Rocio Prestes Hauer

Não há como falar em cinema sem direcionarmos nosso pensamento para a trilha sonora. A música no filme diz muito se analisarmos semanticamente de acordo com seus signos sonoros. Atire a primeira pedra quem não lembra de alguma música de algum filme. Dentre os filmes com trilhas sonoras inesquecíveis não podemos deixar de citar Psicose de Alfred Hitchcock. O som estridente dos acordes em Mi bemóis dos violinos ficou cravado na nossa mente. Composta por Bernard Herrmann, a música do filme Psicose, é relativamente simples, com apenas alguns acordes repetitivos Herrmann conseguiu com a famosa cena do chuveiro transformar a música em mais um elemento da narrativa. Mas o que é trilha sonora? Como ela é elaborada? Então, vamos por partes.
Do inglês: Soundtrack significa conjunto sonoro de um filme, mas essa nomenclatura abrange um sentindo mais amplo. Dentro do soudtrack temos então outros termos que revelam estruturas das trilhas sonoras desconhecidas por muitos telespectadores. Temos então as Canções : Interpretadas por cantores ou bandas, encontramos essas canções em grande escala nos desenhos infantis, principalmente os contos de fadas da Disney. O Score é a música original do filme, composta para o filme. Um exemplo clássico de Score é a música Over the Rainbow, trilha sonora do filme O mágico de Oz, ganhadora do Oscar de Melhor Canção Original no ano de 1940, mas que até hoje é regravada, inclusive por cantores brasileiros. Score Track: uma das faixas da composição, isto é, é o exato momento em que a música será tocada na cena do filme. O Source Music, também chamada música diegética, é aquela que as personagens também ouvem, em casa, no carro, etc. Como exemplo uso a cena do restaurante do filme Perfume de Mulher com Al Pacino. Nessa cena, ele dança o tango “Por uma Cabeza”, que é executado pelos músicos do restaurante. E por fim temos o Underscore que é a música incidental que efetivamente acompanha a ação na tela, fica fácil entender se eu citar aqui a lendária cena do chuveiro de Psicose.
A partir desta breve explicação sobre a produção de uma trilha sonora, percebe-se então que nada no cinema é ao acaso, nem mesmo a trilha sonora. Transformar os acordes musicais em unidades semânticas é uma tarefa árdua e que exige grande conhecimento no assunto, principalmente se a música for instrumental. Aí é que o compositor terá que colocar a prova toda sua sensibilidade e conhecimento sobre o enredo da história. Bernard Herrmann, parceiro de Alfred Hitchcock em vários de seus filmes, costumava fazer uma pesquisa intensa sobre o perfil dos personagens antes de compor as trilhas sonoras. No filme Psicose percebe-se isso devido às cenas de silêncio e as cenas de saturação sonora, o que nos remete a dupla personalidade de Norman Bates. E no filme Um Corpo que Cai, ele consegue passar com a música a sensação de tensão e romance ao mesmo tempo. Outros diretores se inspiraram em Hitchcock, queriam dar as cenas de suspense a mesma dramaticidade que em Psicose, é o caso do filme Tubarão (1975), de Steven Spielberg. Ele queria que as cenas de ataque do tubarão tivessem o mesmo impacto “sonoro” que a cena do chuveiro em Psicose. Tanto fez, que basta ouvirmos os acordes graves das cenas em que aparece o tubarão para lembrarmos da cena do assassinato de Marion Crane.
Essa relatividade entre cena/personagem e música, é o fator principal para se compor uma trilha que cause emoção, ou que nos traga a lembrança algum personagem. Temos como exemplo: 007, Batman, Indiana Jones, Missão Impossível , e por aí vai. Você pode até não gostar do filme, mas reconhece nele a diferença que a música fez ou faz. Psicose não seria o mesmo se Bernard Herrmann não tivesse insistido com Alfred Hichcock em colocar música na cena do chuveiro. Nem “Grease; nos tempos da brilhantina”, com John Travolta, não teria feito tantos bailinhos nos anos 80 ficarem mais animados ao som das baladas cinematográficas.
A trilha sonora tem tanta importância para o cinema, que se pararmos para pensar, nem cinema mudo existiu...Basta assistirmos os filmes de Charles Chaplin, pois neles quem fala é a música e é onde se precisa “ouvir” além de “assitir”.

Um comentário:

  1. Conheci este trabalho de vocês através de um e-mail recebido hoje, sou professora da Unicentro e entrei na equipe de um projeto de Cinema na Universidade.
    Sou professora de música do Curso de Arte-Educação, então adorei ler esta postagem.
    Gostaria de manter contato, quem sabe poderiamos fazer parcerias!!!
    abços
    Daiane Cunha
    dai_flc@yahoo.com.br

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