sexta-feira, 30 de abril de 2010

CONGRESSO NACIONAL DE FILOSOFIA ABRE TEMPORADA DE PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS PARA OS INTEGRANTES DO CINEMAS E TEMAS

Uma das principais propostas do Cinemas e Temas é aliar a extensão com a pesquisa. Para que isso aconteça, é fundamental a participação em eventos, apresentando as pesquisas já realizadas ou em andamento.
Em 2010, a temporada de eventos para os integrantes do projeto começou hoje, dia 30/04, sexta-feira. O Prof. Fábio Augusto Steyer apresentou trabalho no 1º Congresso Nacional de Filosofia dos Campos Gerais, promovido pela Faculdade Santana, de Ponta Grossa. O tema foi: "Cinema e Filosofia: Considerações Sobre a Imagem-Movimento e a Imagem-Tempo de Gilles Deleuze". O congresso teve a participação de pesquisadores de diversos estados brasileiros e contou com palestras e sessões de comunicações. Veja mais informações no blog do evento: http://www.congressofilosofiaiessa.blogspot.com/
Nos próximos meses, várias pesquisas serão apresentadas.
Veja a seguir alguns dos eventos:
* II Congresso Internacional de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil e I Fórum Latino-Americano de Pesquisadores de Leitura - PUCRS - Porto Alegre - RS - Trabalho do Prof. Fábio Augusto Steyer sobre os contos de fadas (Cinderela e Branca de Neve) no cinema;
* I Colóquio Internacional de Estudos Lingüísticos e Literários - UEM - Maringá - PR - Trabalhos de Bruno Scuissiatto (sobre "Cidade de Deus"), de Caroline Wilt Araújo (sobre Agatha Christie) e de Paula Starke (sobre Alfred Hitchcock);
* 8º CONEX - UEPG - Ponta Grossa - PR - Trabalhos sobre as atividades do projeto em 2010, a serem apresentados por Celine Matos, Mayara Bueno da Silva e Isadora Zemgeski;
* Semana de Letras da UFPR - UFPR - Curitiba - PR - Mesa coordenada pelo Prof. Fábio Augusto Steyer, com a participação de vários alunos do projeto.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

UM BREVE OLHAR SOBRE A HISTÓRIA DO CINEMA

POR MAYARA BUENO



Eu fiquei pensando muito sobre o que postar aqui... li alguns textos buscando algo interessante e tal. Até que um dia, visitando o blog como uma simples leitora, atentei que o nome do blog é “cinemas e temas”, então, nada mais interessante e apropriado do que falar um pouco sobre como surgiu o cinema, o nosso principal “objeto de estudo” aqui.
O cinema surgiu na mesma época da criação da fotografia, isso na segunda metade do século XIX. Segundo algumas fontes, o jogo de sombras do teatro de marionetes oriental, aproximadamente 5.000 a. C. foi um dos mais remotos percussores do cinema. Posteriormente, a câmera escura e a lanterna mágica, a partir do século XVI. Sua história inicia oficialmente com a exibição pública das produções dos irmãos Lumière (1895) em Paris, que projetaram somente imagem numa tela grande. Era o cinema mudo.

CLIQUE AQUI E VEJA ALGUNS DOS PRIMEIROS FILMES DOS IRMÃOS LUMIÈRE

Os primeiros filmes eram do gênero documentário e ficção, e depois, já no século XX, as primeiras peças de teatro são filmadas, surgindo a comédia, o romance, a aventura e tantos outros gêneros que conhecemos atualmente.

CLIQUE AQUI E VEJA ENTREVISTA COM O CRÍTICO CELSO SABADIN SOBRE SEU LIVRO: "A BARULHENTA HISTÓRIA DO CINEMA MUDO"

Hollywood se consagra no período entre-guerras como a “fantástica fábrica de filmes”, com seus grandiosos estúdios e atores, tornando-se referência mundial na produção cinematográfica até os dias de hoje. Mas, graças à globalização, ou sei lá o que, produções de outros lugares estão conseguindo reconhecimento e um lugar ao sol, para mostrar seus trabalhos pelo mundo a fora.
O cinema sofreu muitas transformações e evoluções para ser como conhecemos hoje, formato 3D e não sei mais o que... Ele acompanhou a evolução do homem e suas descobertas, tornando-se um registro de determinado tempo histórico.

terça-feira, 20 de abril de 2010

POR TRÁS DAS CÂMERAS DE STARDUST

ANA CARLA BELLON



A produção de Lorenzo di Bonaventura, Michael Dreyer, Neil Gaiman e Matthew Vaughn, baseada na obra literária homônima Stardust, de Neil Gaiman, é um filme “gostoso sem ser comédia romântica. Não vai mudar a sua vida, não vai mudar o mundo, mas diverte”. Esse foi o comentário do diretor Matthew Vaughn acerca de sua produção.
Diante deste ponto de vista fui levada a pensar: “mas, então, porque estudá-lo?”. Essa resposta foi bem simples de encontrar, assim como assistir ao filme, e no decorrer desta prévia discussão esclarecerei alguns destes porquês.
Além de divertir, o filme nos traz várias reflexões, assim como o livro de inspiração, dispensando qualquer comparação unicamente maniqueísta. Um primeiro ponto a ser tratado, muito curioso por sinal, é o fato do próprio escritor ajudar e acompanhar a produção do filme originado da sua obra. Neil Gaiman é um escritor norte-americano, considerado um dos mais inteligentes e ímpares da atualidade. Escreveu a série Sandman de quadrinhos, cuja produção lhe proporcionou os primeiros reconhecimentos.
Gaiman diz que o livro está pronto, no cinema é e deve ser outra coisa. E aí entramos em varias questões da realidade de produzir um filme, como o orçamento. No livro havia uma batalha entre um leão e um unicórnio e o comentário do diretor sobre a ausência desta batalha e a presença apenas do unicórnio é justamente essa. Diz que a princípio faria a batalha, mas que o unicórnio custou quase 10 milhões e com mais um leão estourariam o orçamento, portanto tiveram que aproveitar o unicórnio sem a batalha.
Esse tipo de situação afasta ainda mais a credibilidade de comparações entre literatura e cinema que prevêem unicamente como critério a fidelidade do filme ao texto de inspiração. E, a partir disso, podemos manter um diálogo entre literatura e cinema. Ambas as artes possuem valores distintos, podendo ser aproximadas, mas com cautela.
Outra questão a ser observada é a retratação do conto de fadas, que envolve elementos do maravilhoso; além disso, tem também um pouco de épico, jornada do herói, o narrador; a relação peculiar entre os irmãos, filhos do rei, que de tão trágica chega a ser cômica. Mais uma questão bastante interessante é o comentário do diretor sobre a contribuição do fato da atriz Michelle Pfeiffer ser um ícone de beleza na composição da personagem no filme, ou seja, a realidade que interfere e/ou colabora para a ficção.
Parece ser bastante pertinente também mostrar um pouco da obra literária. O seu autor inventou um gênero chamado “conto de fadas para adultos” e neste ponto podemos verificar, ainda, muitas outras questões, mas a principal é o que faz do livro ter esta indicação. Há muitas críticas na obra sobre os clichês ou lugares-comuns como o final feliz, o perfil do protagonista, o começo, o amor.
Enfim, é mais ou menos neste sentido que caminharão os comentários. Fica o convite pra todos participarem de mais este encontro do projeto Cinemas e Temas!!! Encerro com um trecho da obra literária:
“[...] é a única razão para um jovem como você cometer a estupidez de atravessar a fronteira [...]. Então, só pode ser por amor. [...] Ela o enviou aqui para procurar fortuna? Isso costumava ser muito popular. A gente encontra jovens andando por aí o tempo todo [...] Sabe o que eu faria? [...] Mandaria ela enfiar a cara na pocilga, sairia e encontraria outra que o beijasse sem pedir a Terra em troca.”(2007, p.77)

Abraços,


Ana Carla Bellon.

sábado, 17 de abril de 2010

LIVROS DE AGATHA CHRISTIE PARA BAIXAR


Pessoal!

No link abaixo, mais de 50 obras de Agatha Christie para baixar gratuitamente.

CLIQUE AQUI - AGATHA CHRISTIE PARA BAIXAR

Aqui vai a lista dos textos disponíveis:

Hora Zero
Depois do Funeral
Cem Gramas de centeio
Mistério no Caribe
A Mina de Ouro
Assassinato no Beco
A Mansão Hollow
A Aventura do Pudim de Natal
A Carga
A Maldição do Espelho
A Casa Torta
A Filha
A Ausência
A Noite das Bruxas
A Morte do Almirante
A Terceira Moça
A Extravagância do Morto
Aventura em Bagdá
Cartas na Mesa
Cipreste Triste
Assassinato no Expresso Oriente
Encontro com a Morte
Morte entre as Ruínas
Morte na Praia
Morte no Nilo
O Inimigo Secreto
O Assassinato de Roger Ackroyd
O Detetive Packer Pyne
O Enigma das Cartas Anônimas
O Estranho Caso da Velha Curiosa
O Homem do Terno Marrom
O Mistério do Trem Azul
O Misterioso Caso de Styles
O Segredo de Chimneys
Os Cinco Porquinhos
Os Quatro Grandes
Os Trabalhos de Hércules
Os Relógios
A Testemunha Ocular do Crime
Um Crime Adormecido
A Casa do Penhasco
Assassinato na Casa do Pastor
A Morte da Sra. McGinty
Morte nas Nuvens
Os Primeiros Casos de Poirot
O Natal de Poirot
Poirot e os Erros da Datilógrafa
Poirot, o Golfe e o Crime
Poirot Salva o Criminoso
Os Cinco Suspeitos
A Mulher Diabólica
M ou N?
Três Ratos Cegos e Outras Histórias
Um Passe de Mágica
Cai o Pano
O Caso dos Dez Negrinhos

Aproveitem!!!

Marçal Aquino - do roteiro ao conto

 Cão sem dono foi o último filme roteirizado por Aquino.

Certamente se você frequenta cinemas no Brasil ou mesmo faz o papel de locatário em finais de semana, isso que normalmente nos sobra dentro dos compromissos diários, já teve contato com o nome de Marçal Aquino. Esse paulistano de Amparo tem uma estreita relação com o cinema, como roteirista escreveu para diversos filmes produzidos no cinema nacional na última década.

Os seus roteiros podem ser vistos em filmes como Os Matadores (1997), que inaugurou uma das suas parcerias dentro do universo do cinema com o diretor Beto Brant. Com a direção de Brant vieram Ação entre amigos (1998), O invasor (2001), Crime Delicado (2005) e Cão Sem Dono (2007). Outro diretor que costuma dialogar com os roteiros de Aquino é Heitor Dhalia, que produziu Nina (2004) e O Cheiro do Ralo (2006).

Para um leitor ou espectador de cinema atento será fácil perceber a relação inerente de Aquino com o cinema e a literatura. Da sua filmografia grande parte das produções são roteiros adaptados de obras da literatura brasileira contemporânea, como em O Invasor, escrito pelo próprio roteirista, Crime Delicado, à partir do livro de Sérgio Sant' anna, Cão Sem Dono, adaptado dos contos de Até o Dia em que cão morreu de Daniel Galera e Nina, uma visão moderna do romance Crime e Castigo de Dostoiévski.

Uma faceta que muitas vezes pode passar despercebida pela velocidade da contemporaneidade é de grande produtor de literatura. Seguir de uma tradição do conto brasileiro, Aquino tem uma produção de grande alcance dentro da geração de 90 da literatura brasileira. Vencedor do Jabuti de 2001 com os contos de Amor e Outros Objetos Pontiagudos, recebeu diversos outros prêmios com suas outras obras. Produziu também Faroestes e Famílias Terrivelmente Felizes e as novelas O Invasor e Cabeça a prêmio.

Seu último trabalho no campo literário foi o romance Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios. O minimalismo do enredo é algo visceral, com a aplicabilidade da polifonia dentro da voz narrativa, o discurso dos defeitos, estes muito mais simpáticos que as qualidades. Como herança da escola de Rubem Fonseca, Dalton Trevisan e João Antônio nos é mostrada na visão do narrador Cauby o envolvimento com uma sociedade que muitas vezes está escondida, mas todos sabem onde está. Dentro de uma narrativa não linear, com puxetas de uma teoria do fluxo da consciência descritas por ali, o romance nos persuade alternar no mesmo viés realidade e imaginação dos personagens. Esse talho tão comum ao cinema aparece de forma magistral dentro do romance. Talvez, a partir de um convite, mais uma produção fílmica será produzida. Pois mesmo sendo criações totalmente diferentes, a literatura e o cinema dialogam de certa forma, ainda mais para Aquino que conseguiu construir uma trama amarrada nos moldes da narrativa cinematográfica.

A aproximação da urbe é um traço importante dentro de muitos dos seus outros contos. Em um país em que o tom autoral muitas vezes acaba esquecido, Aquino consegue seja pelos roteiros ou por sua literatura uma factualidade de seus tempos de jornalista.

Prosa:
O invasor
Faroestes
O amor e outros objetos pontiagudos
As fomes de setembro
Miss Danúbio
Cabeça a prêmio
Família terrivelmente felizes
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios


Roteiros:
Os Matadores
Ação Entre Amigos
O Invasor
Nina
O cheiro do ralo
Cão Sem Dono







Bruno Scuissiatto

quinta-feira, 15 de abril de 2010

TRAILERS DOS FILMES DA MOSTRA SOBRE AGATHA CHRISTIE

CLIQUE NOS TÍTULOS DOS FILMES PARA VER O TRAILER:

ASSASSINATOS À BORDO

MORTE NO NILO

ASSASSINATO NO EXPRESSO ORIENTE

TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO

ABERTURA DA SÉRIE DE TV - POIROT

TRAILERS DOS FILMES DA MOSTRA "DIÁLOGOS ENTRE LITERATURA E CINEMA"

CLIQUE NOS TÍTULOS DOS FILMES PARA VER O TRAILER:


RAN

STARDUST - O MISTÉRIO DA ESTRELA

AS HORAS

TRECHO DE VIDAS SECAS

DIVULGADOS FILMES EM COMPETIÇÃO DO FESTIVAL DE CANNES

Entre os selecionados, diretores importantes como Abbas Kiarostami, Bertrand Tavernier e Mike Leigh.


CLIQUE AQUI E VISITE O SITE OFICIAL DO FESTIVAL DE CANNES 2010


DO SITE UOL
O festival de Cannes divulgou nesta quinta-feira a seleção de filmes de sua 63ª edição. O diretor Thierry Frémaux anunciou, durante uma apresentação em Paris, os 16 filmes que integram a competição neste ano.

Fora da competição, o filme "Robin Hood", do diretor Ridley Scott, foi escalado para a abertura do festival. Outros filmes que ficaram de fora da competição são "Tamara Drewe", de Stephen Frears, "Wall Street 2: Money Never Sleeps", de Oliver Stone, e "You Will Meet a Tall Dark Stranger", de Woody Allen.
O presidente do júri será o diretor Tim Burton, que lança neste mês o aguardado longa "Alice", e terá ainda os atores Alberto Barbera, Kate Beckinsale, Emmanuel Carre, Benicio Del Toro, Victor Erice, Shekhar Kapur e Giovanna Mezzogiorno.


Veja a lista dos filmes selecionados.

"Another Year", de Mike Leigh (Reino Unido)
"Biutiful", de Alejandro Gonzalez Inarritu (Espanha/ México)
"Burnt by the Sun 2", de Nikita Mikhalkov (Alemanha/ França/ Rússia)
"Certified Copy", de Abbas Kiarostami (França/ Itália/ Irã)
"Fair Game", de Doug Liman (EUA)
"Hors-la-loi", de Rachid Bouchareb (França/ Bélgica/ Algéria)
"The Housemaid", de Im Sang-soo (Coréia do Sul)
"La nostra vita", de Daniele Luchetti (Itália/ França)
"La Princesse de Montpensier", de Bertrand Tavernier (França)
"Of Gods and Men", de Xavier Beauvois (França)
"Outrage", de Takeshi Kitano (Japão)
"Poetry", de Lee Chang-dong (Coréia do Sul)
"A Screaming Man", de Mahamat-Saleh Haroun (França/ Bélgica/ Chade)
"Tournee", de Mathieu Amalric (França)
"Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives", de Apichatpong Weerasethakul (Espanha/ Tailândia/ Alemanha/ Reino Unido/ França)
"You, My Joy", de Sergey Loznitsa (Ucrânia/ Alemanha)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

"Os Originais"

POR ISADORA ZEMGESKI



 


Comecemos este post com um exemplo, para, apenas depois, discorrermos sobre as conclusões cabíveis. Uso como exemplo Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), obra de Anthony Burgess. Não, meus caros! Laranja Mecânica não é obra de Stanley Kubrick. Não se ofendam pensando que vos alcunho de parvos, o fato é que, realmente, o Laranja Mecânica que a maior parte das pessoas conhece é do filme britânico de Kubrick, estrelado por Malcolm McDowell em 1971. Poucos sabem também que houve uma adaptação da trama para um musical. Foi o filme que mais marcou a mente de todos.

Em pleno século XXI, 41 anos depois de sua produção, é tido como um clássico cinematográfico, um símbolo de cultura muito apreciado, inclusive, por toda uma geração que nem era nascida quando o filme foi feito. Há tribos adolescentes que adotaram a produção como ícone. A partir de então, Laranja Mecânica tornou-se febre, Alex DeLarge e seu estilo futurista, com um enorme cílio postiço no olho direito, um ídolo! Camisetas, bolsas, bótons e muito mais! A banda Sepultura lançou, em 2008, um álbum todo baseado na história. Moda!!!
Mas qual a origem de Laranja Mecânica? Voltemos ao ínício: "obra de Anthony Burgess". Quem foi Anthony Burgess??? Nascido na Inglaterra em 1917, formou-se em Inglês e foi professor até 1960 na Malásia, onde, então, começou a escrever. Sim, escritor! Laranja Mecânica foi uma extrapolação para o futuro das brigas de gangues que ele presenciou na sua terra natal ao voltar da Ásia. Um clássico da Literatura Cyberpunk ao lado de “1984” de George Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley.
Entretanto a questão aqui não é o Laranja Mecânica, nem Kubrick, nem Burgess, nem o Cyberpunk. A questão aqui é que todo este frenesi não teve origem em nenhum outro campo se não no da literatura. E aqui chego ao meu ponto. Estão na literatura "Os Originais" de muitos filmes, modas, canções, seriados, influências, etcetera. Ou alguém sabe de algum livro baseado em um filme? Ou baseado em uma música? A literatura baseia-se na imaginação e vivências dos seus autores, ou então em fatos reais (ponto). É a partir da literatura que acontece todo o resto! Não digo que a música e o cinema dependem da literatura para existir, mas que fazem - e muito - o uso desta.





Por que é muito mais interessante, quando uma obra literária ganha sua versão cinematográfica, ler primeiro e assistir depois? Porque quando se lê, a imaginação cria os cenários - que ganham novos móveis, novas cores e tamanhos -, os personagens - que mudam de fisionomia e estilo -, e as cenas - que mudam de ângulo e contexto - conforme o autor narra. O leitor torna-se o diretor que desbrava um roteiro para encená-lo em sua mente. Quando se assiste a um filme, se condiciona a como o diretor deste imaginou a história. E, se somente depois o livro é lido, este fica preso a como o filme foi feito. E é por esta razão, meus bons e poucos amigos leitores, que vos digo: os livros são "Os Originais", a causa e a semente.



* Texto originalmente publicado no blog: www.thegoodquill.blogspot.com

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Um Olhar sobre "Ran", de Akira Kurosawa


POR RICARDO NARDES CORREA

No início de 2010 fui convidado pelo professor Fábio Steyer a participar do projeto Diálogos entre literatura e cinema, a ser desenvolvido pelo setor de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Havíamos travado conhecimento em novembro de 2009, por ocasião da defesa do meu Trabalho de Conclusão de Curso, que versava sobre dois filmes baseados na obra de William Shakespeare: Macbeth, de Roman Polanski, de 1971, e Trono Manchado de Sangue, de Akira Kurosawa, de 1957. Orientado pelo professor Antonio João Teixeira (Letras - UEPG), que dispensa maiores apresentações e comentários no que se refere à literatura inglesa e norte-americana, assim como ao cinema, estudei e analisei o espaço cênico de ambas as obras cinematográficas.

Sabendo desse interesse pela sétima arte e por Akira Kurosawa, Fábio sugeriu, então, que eu apresentasse RAN, filme de 1985 e considerado pelo próprio Kurosawa sua grande contribuição para o cinema. Inspirado em Rei Lear, de Shakespeare, Ran consegue captar toda a magnitude filosófica da peça, transpondo os limites do cinema. No filme estão impressos claramente elementos da cultura japonesa, notadamente do décimo sexto século (período do país em guerra). Segundo Teixeira, em entrevista concedida a Robert Hapgood, Kurosawa teria pensado, a princípio, em escrever um script sobre Motonari Mori, um general do décimo segundo século japonês, que tinha três bons filhos. Em um insight, o cineasta refletiu: o que teria acontecido se esses filhos fossem maus (dois deles)? E isso o fez lembrar da história do Rei Lear. Logo no início do filme, já se observa a marca do diretor na parábola do feixe de flechas que separadas são facilmente quebradas, mas que juntas se tornam fortes. A parábola é contestada por Saburo, o filho mais novo. Tal como o Rei Lear, o Grande Lord Hidetora já estava idoso e decidiu dividir seu reino entre seus três filhos, cabendo ao filho mais velho, Taro, o controle do Clã. Os outros dois castelos ficam para os outros filhos. Saburo contesta a decisão do pai, pensando no bem dele, e é expulso. Nesse aspecto da trama, o filme se assemelha muito à peça de Shakespeare, com a diferença que no caso dela, são três filhas: Goneril, Regana e Cordélia.
Se o Rei Lear representa a figura do patriarca centralizador, a figura do homem que prove e toma todas as decisões, com o Lord Hidetora a história teria sido igual se não fosse pelo seu passado de atrocidades e violência, em nome da conquista de territórios. Essas ações de Hidetora desencadeiam as ações de outros personagens no enredo do filme, como as de Lady Kaede, por exemplo, que teve sua família assassinada pelo Shogun, passando a agir motivada pela vingança e assim também justificando a reclusão de Tsurumaru, que teve seus olhos queimados pelo Grande Lord, depois do castelo de sua família ter sido incendiado. Esse ambiente onde se desenrolam essas guerras entre clãs foi criado com base na era do país em guerra, onde Kurosawa se inspira para criar sua trama. Assim também era a atmosfera da Grã-Bretanha do século XVI, em que Shakespeare escreve Rei Lear, considerando as guerras entre monarquistas e puritanos e a guerra dos Roses.
No que se refere aos momentos em que são travadas as batalhas, Kurosawa mostra ao espectador o aspecto trágico da guerra, enfatizado com o uso do som não-diegético, por meio de música orquestral. Numa longa seqüência, é mostrada uma carnificina onde os tons de vermelho sangue se destacam, muitas vezes sobre um quase preto e branco em segundo plano. Contraditoriamente, estamos diante de um momento de rara beleza artística mostrando a desgraça que o homem submete a si mesmo.
Em Ran, também somos convidados a imaginar, uma vez que o diretor opta pelo primeiro plano simples e recusa o recurso do close-up. Dessa forma, não conhecemos o rosto triste de Sue - essa é uma imagem criada por Hidetora. Entretanto, conseguimos perceber que Lady Kaede faz movimentos mínimos com seu rosto pintado como máscara e que Hidetora exagera suas expressões, quando começa a enlouquecer, para demonstrar medo, terror, indignação, tristeza e loucura.
A expressão dos atores principais: Kaede, Hidetora, Saburo, Giro e Tsurumaru, vem do teatro Nô e é justamente para dar essa dimensão ao espectador (como se sentisse em um teatro) que se opta pelo primeiro plano simples em muitas cenas. Nos planos em campo aberto, em que os exércitos cavalgam, denotam-se belíssimas tomadas em locações esplêndidas, que muito contribuem para dar um background naturalista em tais seqüências. A cena em que Saburo atravessa o rio com seu exército buscando salvar seu pai nos remete aos filmes de western, estilo em que estão, curiosamente, classificados muitos filmes de Akira Kurosawa nos Estados Unidos.
Ainda no que se refere à atuação dos personagens, um aspecto que chama nossa atenção é a forma como Hidetora expressa sua loucura e os sentimentos dela derivados. Isso ocorre, por exemplo, na cena em que seu castelo é tomado pelo exército de Giro, e ele se vê em meio ao fogo, tiros e flechas e se sente acuado, esbugalhando os olhos e indo de um lado paro o outro e depois quando sai do castelo, caminhando em linha reta, alheio ao mundo e com o olhar fixo para o nada. Também as seqüências ao lado do bobo, em que às vezes não reage às provocações daquele ou em outras ocasiões corre, fugindo de seus fantasmas ou perseguindo-os. Nesse sentido, a cena em que Hidetora pula de um monte não muito alto nos lembra muito a passagem em que Glocester quer pular de um precipício criado por Edgar, seu filho, em Rei Lear. Também a figura do bobo, que age sempre no sentido de provocar o Grande Lorde e os outros personagens, e, mais ainda, o próprio espectador com suas anedotas e cantigas que guardam uma sabedoria milenar, que sempre versam sobre questões importantes da vida humana, testando nossa racionalidade e fazendo com que nos perguntemos em alguns momentos quem é o bobo e quem é o rei. Não é a toa que Harold Bloom afirma que o bobo é um dos quatro personagens principais na peça de Shakespeare, assim como Lear, Edmundo e Edgar.
Uma das grandes questões abordadas por Shakespeare em sua obra, e tão bem explorada por Kurosawa, é a da senilidade. Em algumas oportunidades somos obrigados a entrar na mente de Hidetora, que vive conflitos do tipo: realidade e sonho, céu e inferno, razão e loucura. A obscuridade da casa de Tsurumaru é o clima perfeito para que seja dada vazão a esse estado psíquico. Hidetora não reconhece mais a si mesmo e nem aos que o cercam ao mesmo tempo em que lampejos de lucidez aumentam as esperanças do bobo, como o fato de, por alguns segundos lembrar do que fez a Tsurumaru, que com sua única amiga flauta, canta sua agonia e mágoa.
Sobre essa figura andrógena, no começo ficamos em dúvida sobre sua sexualidade. Tsurumaru parece representar a humanidade com sua solidão, pois estamos sempre a procura de algo que nos complete. A ultima cena, à beira do abismo, é emblemática, com a figura do Buda caindo e revelando que os deuses não podem nos salvar de nós mesmos.
Filmes como Ran estão acima de qualquer honraria, protocolo ou premiação, mas mesmo assim é bom lembrar que venceu o Oscar de melhor figurino, em 1985, o Oscar honorário, em 1989, e o prêmio Kyoto, em 1994. Esse ano, 2010, Akira Kurosawa completaria 100 anos no dia 23 de março, uma mente inquieta que sobreviveu a vinte e cinco tentativas de suicídio nos anos 1970 e acabou morrendo aos 88 anos, em 1998, talvez porque houvesse muito ainda a ser feito: Ran, sobretudo.


RICARDO NARDES CORREA