terça-feira, 20 de abril de 2010

POR TRÁS DAS CÂMERAS DE STARDUST

ANA CARLA BELLON



A produção de Lorenzo di Bonaventura, Michael Dreyer, Neil Gaiman e Matthew Vaughn, baseada na obra literária homônima Stardust, de Neil Gaiman, é um filme “gostoso sem ser comédia romântica. Não vai mudar a sua vida, não vai mudar o mundo, mas diverte”. Esse foi o comentário do diretor Matthew Vaughn acerca de sua produção.
Diante deste ponto de vista fui levada a pensar: “mas, então, porque estudá-lo?”. Essa resposta foi bem simples de encontrar, assim como assistir ao filme, e no decorrer desta prévia discussão esclarecerei alguns destes porquês.
Além de divertir, o filme nos traz várias reflexões, assim como o livro de inspiração, dispensando qualquer comparação unicamente maniqueísta. Um primeiro ponto a ser tratado, muito curioso por sinal, é o fato do próprio escritor ajudar e acompanhar a produção do filme originado da sua obra. Neil Gaiman é um escritor norte-americano, considerado um dos mais inteligentes e ímpares da atualidade. Escreveu a série Sandman de quadrinhos, cuja produção lhe proporcionou os primeiros reconhecimentos.
Gaiman diz que o livro está pronto, no cinema é e deve ser outra coisa. E aí entramos em varias questões da realidade de produzir um filme, como o orçamento. No livro havia uma batalha entre um leão e um unicórnio e o comentário do diretor sobre a ausência desta batalha e a presença apenas do unicórnio é justamente essa. Diz que a princípio faria a batalha, mas que o unicórnio custou quase 10 milhões e com mais um leão estourariam o orçamento, portanto tiveram que aproveitar o unicórnio sem a batalha.
Esse tipo de situação afasta ainda mais a credibilidade de comparações entre literatura e cinema que prevêem unicamente como critério a fidelidade do filme ao texto de inspiração. E, a partir disso, podemos manter um diálogo entre literatura e cinema. Ambas as artes possuem valores distintos, podendo ser aproximadas, mas com cautela.
Outra questão a ser observada é a retratação do conto de fadas, que envolve elementos do maravilhoso; além disso, tem também um pouco de épico, jornada do herói, o narrador; a relação peculiar entre os irmãos, filhos do rei, que de tão trágica chega a ser cômica. Mais uma questão bastante interessante é o comentário do diretor sobre a contribuição do fato da atriz Michelle Pfeiffer ser um ícone de beleza na composição da personagem no filme, ou seja, a realidade que interfere e/ou colabora para a ficção.
Parece ser bastante pertinente também mostrar um pouco da obra literária. O seu autor inventou um gênero chamado “conto de fadas para adultos” e neste ponto podemos verificar, ainda, muitas outras questões, mas a principal é o que faz do livro ter esta indicação. Há muitas críticas na obra sobre os clichês ou lugares-comuns como o final feliz, o perfil do protagonista, o começo, o amor.
Enfim, é mais ou menos neste sentido que caminharão os comentários. Fica o convite pra todos participarem de mais este encontro do projeto Cinemas e Temas!!! Encerro com um trecho da obra literária:
“[...] é a única razão para um jovem como você cometer a estupidez de atravessar a fronteira [...]. Então, só pode ser por amor. [...] Ela o enviou aqui para procurar fortuna? Isso costumava ser muito popular. A gente encontra jovens andando por aí o tempo todo [...] Sabe o que eu faria? [...] Mandaria ela enfiar a cara na pocilga, sairia e encontraria outra que o beijasse sem pedir a Terra em troca.”(2007, p.77)

Abraços,


Ana Carla Bellon.

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