Bruno Scuissiatto
Foi lançado no Brasil com tradução de André Telles pela editora Jorge Zahar o livro - Cinefilô, do escritor francês Ollivier Pourriol. O autor foi um dos convidados da última edição da Flip (Festa Literária Internacional de Parati) na mesa intitulada: Cinema e Filosofia.
Pourriol trata na obra das fusões entre imaginação e racionalidade, usando como exemplos alguns enredos fílmicos muito cultuados no mundo, como: Clube da Luta, Colateral e o Sexto Sentido. A sua análise é feita com auxilio das teorias de Descartes (inaugurou o racionalismo na Idade Moderna , com o seu: Penso, logo existo) e Spinoza (contrário de Descartes, Spinoza achava que a
emoção só pode ser suplantada por outra emoção – jamais
pela razão).
emoção só pode ser suplantada por outra emoção – jamais
pela razão).
Abaixo uma pequena entrevista do autor durante a sua participação na Flip.
Como surgiu a idéia de ensinar filosofia com a ajuda do cinema?
Comecei a utilizar o cinema em sala de aula no último ano do colegial, depois continuei numa sala de cinema. Foi uma experiência, iniciada em 2006, no cineclube MK2 da Biblioteca de Paris. O sucesso foi imediato e me permitiu realizar quatro séries de conferências. Não se trata simplesmente de ensinar filosofia por meio do cinema, mas de confrontar cinema e filosofia. Muitas vezes, é o cinema que nos esclarece sobre a filosofia, graças ao seu poder de identificação.
Por que escolheu trabalhar com a filosofia de Descartes e Spinoza?
Comecei por Descartes e Spinoza, pois ambos buscaram um meio de universalizar seu pensamento ao lhe conferir uma forma democrática. Democrática não quer dizer fácil, mas acessível. Descartes escreveu em francês em vez de usar o latim. E Spinoza escreveu à maneira dos geômetras, more geometrico. Escolhi-os também porque Descartes e Spinoza utilizam a metáfora do olho e da visão para falar da atividade do espírito. Descartes fala de intuição, de ideia clara e distinta, da luz da razão... Spinoza diz, acerca das demonstrações, que elas são “os olhos da alma”. Eu quis “ver” se essa metáfora devia ser levada a sério e se podia ser fecunda, por exemplo, para compreender os movimentos de câmera no cinema. Não se pode dizer que Descartes privilegie a razão e Spinoza, a emoção. Spinoza é tão racionalista quanto Descartes. O que é interessante é que Descartes é um filósofo da liberdade, ao passo que Spinoza é um filósofo da necessidade. Quis explorar essa dissonância e dar-lhe vida através do cinema.Por outro lado, esse livro é a primeira etapa de um projeto mais amplo, uma vez que há quatro anos venho trabalhando igualmente com Hegel, Kant, Rousseau, Alain, Michel Foucault, René Girard, Michel Serres... e sobre temas como a representação das catástrofes, a manipulação na democracia, a saúde, a criação nas ciências e na arte.
Como os filmes são usados no ensino de filosofia? Cada um é associado a um conceito distinto? O senhor poderia dar um exemplo?
Em Colateral, de Michael Mann, Tom Cruise personifica um matador profissional. Há uma cena numa boate em que cada movimento de câmera corresponde a um preceito do método cartesiano: ideia clara e distinta (do desfocado à definição), divisão da dificuldade (zoom), invenção de uma ordem não natural (montagem), enumeração (panorâmica). É delicado resumir, ainda mais sem estar assistindo ao filme, e eis por que no livro proponho uma montagem de trechos de filmes com descrições e diálogos, numa ordem que permite construir a ideia.
O livro pode ser encontrado nas livrarias do país todo, como também direto no site da própria editora: http://www.zahar.com.br/
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