segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Garapa

Bruno Scuissiatto






Desta vez o plano de ação não é o Rio de Janeiro com suas orlas belíssimas, favelas que merecem ser chamadas de neofavelas, muito menos um comandante que tenta abrir os olhos da corporação para a corrupção dentro da PM. Após a fórmula vitoriosa do “violência movie”, o diretor José Padilha lança Garapa, um documentário social sobre à fome do ponto de vista de quem realmente a sente.
A produção começou a ser concebida em 2001 durante uma conversa entre Padilha e seu sócio na Zazen Produções, Marcos Prado. Porém precisou ser interrompida após a liberação do edital para a produção do longa Tropa de Elite.
Com a duração de 110 minutos, Garapa traduz de maneira contundente a situação de precariedade de muitas famílias no país. Parecemos que ao assistirmos o filme voltamos às produções realizadas durante o Cinema Novo, principalmente ao filme Vidas Secas, adaptação do romance homônimo de Graciliano Ramos realizado pelo diretor Nelson Pereira Santos em 1963. Fatores não faltam: crítica da realidade brasileira, som mono, fotografia em preto e branco.
Se em Ônibus 174 o diretor precisou apenas ligar a sua câmera na janela do seu escritório e captar as mais de quatro horas e meia do seqüestro, em Garapa ele precisou se dirigir até o Ceará, lugar onde acompanhou a saga de três famílias. O processo para a montagem foi à gravação de mais de 45 horas. (vide sinopse abaixo)
A curiosidade sobre a produção do filme é que ela foi formada apenas por cinco profissionais que estiveram no nordeste. O contato com ações não governamentais da região é que escolheu as famílias para serem retratas no documentário.
O nome do documentário é intencional, pois Garapa é uma mistura de água com açúcar, ou rapadura, preparada pelas famílias para alimentar as crianças.
Mais uma vez Padilha consegue fazer com um documentário a realidade superar a ficção.


Segundo a ONU, mais de 920 milhões de pessoas sofrem de fome crônica no mundo. O impacto desses números depende da nossa compreensão do que significa “passar fome”. Geralmente, os meios de comunicação discutem a partir de uma perspectiva macroscópica, debatendo as causas ambientais, geográficas, econômicas e políticas da fome. Embora este debate seja fundamental, continuamos, no entanto, sem saber como é a vida das pessoas que passam fome. Para que se compreenda o real significado do problema, é necessário conhecê-lo de perto.
GARAPA é o resultado dessa preocupação. O filme é fruto de mais de 45 horas de material filmado por uma pequena equipe que, durante quatro semanas, acompanhou o cotidiano de três famílias no estado do Ceará.
À frente dessas famílias estão Rosa, Robertina e Lúcia – mulheres que, diante das condições mais adversas buscam estratégias de sobrevivência.

Link do site oficial do documentário.

http://www.garapaofilme.com.br/



2 comentários:

  1. É triste ter que perceber a realidade diante de uma criação ficcional. Documentários como estes deveriam sempre povoar os novos jornais para que as pessoas tivessem consciência social das mazelas do país e, assim, tivessem mais respeito pela vida. A arte é mais do que um retrato do real, é a expressão viva que os olhos, muitas vezes, não querem ver.
    Flávia Almeida

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  2. Garapa nos traz a sensação que poderia ser uma ficção. Porém, a visceridade não apresenta encenação. Padilha mais uma vez nos bate na cara com seu talento cada dia mais visto na nova leva do cinema nacional.

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