domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Poeta do Castelo - curta-metragem

O diretor Joaquim Pedro de Andrade certamente foi um dos cineastas que teve comprometimento em realizar obras autorais dentro do cinema brasileiro na primeira metade do século XX. Com os longa-metragens: Garrincha, Alegria do Povo (1963), O Padre e a Moça (1965), Macunaíma (1969) e os Inconfidentes (1972) o diretor conseguiu destaque entre os cinemanovistas.
Chama atenção nestes filmes o envolvimento das produções com aproveitamentos oriundos da cultura popular, seja com o futebol, a poesia (o Padre e a Moça é baseado no poema homônimo drummondiano.
 Porém sua estreia no papel de diretor foi em 1959 com os curtas-metragens O Mestre dos Apipucos e O Poeta do Castelo. Em ambos os personagens centrais são Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, que são os protagonistas em seus cotidianos.
O curta O Poeta do Castelo em si, somente pelos créditos da direção e elenco representam muito para nossa cultura literária. Assina a direção ao lado de Pedro de Andrade o escritor Fernando Sabino, além do poeta Manuel Bandeira atuando dentro do discurso dos seus próprios poemas.
A primeira cena é magistral, pois demonstra o Bandeira ator debruçado sobre um freezer da coca-cola, com o close na sua expressão ao tossir, visualizamos na parede uma propaganda da chicletes. Nesse tempo o recurso de passear com a câmera pelo conjuntos de prédios no centro do Rio de Janeiro, denota uma ausência que parece ser a extensão da consciência do protagonista. Contribuem para essa ideia, a música instrumental que permanece pela penumbra entre janelas e jornais pelo chão.
Com a voz do poeta declamando o poema Belo-belo temos novamente a narrativa pairando pelas sacadas e janelas do edifício, quando se volta do corte, temos uma abertura de cena com o close nas panelas – isso demonstra toda uma estética de imprimir realismo no cotidiano de Manuel Bandeira.  No mais temos um Bandeira caseiro e despojado em sua cama datilografando versos.
A própria narrativa do filme é feita pela interpretação de Manuel Bandeira contracenando com os seus próprios versos.  
Em dez minutos Joaquim Pedro de Andrade conseguiu fazer um dos nossos maiores poetas ser a própria representação da sua poesia. Pelos passos finais no filme somos ilustres convidados para sentir um pouco da Pasárgada fílmica.


Bruno Scuissiatto





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