A produtora Bem-te-vi Filmes tem uma importância vital para a permanência de nomes da literatura brasileira em películas. Em 1972 o escritor Fernando Sabino e o crítico de cinema David Neves realizaram o audiovisual de dez obras ligadas a alguns autores, e agora reunidas no DVD "Encontro Marcado com o Cinema de Fernando Sabino", organizado pela gravadora Biscoito Fino do Rio de Janeiro.
Importantes nomes como do poeta Carlos Drummond de Andrade (acompanhe abaixo o curta – O Fazendeiro no ar), Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Érico Verissimo, José Américo de Almeida, Afonso Arinos, Pedro Nava, além do curta O Poeta do Castelo (exibido aqui no blog na semana passada), de Joaquim Pedro de Andrade com a presença de Manuel Bandeira.
O curta-metragem O Fazendeiro do ar (1972) traz um Carlos Drummond de Andrade que dialoga com o expectador, mostrando alguns dos seus pontos de vista. Se o barulho característico do mar ecoa de forma carioca, são suas lembranças itabiranas, que chegam a constatação do mito mineiro, conforme própria narrativa do poeta.
As cenas do curta privilegiam um Drummond cotidiano – tomando um pingado encostado no balcão da padaria, ao mesmo tempo em que sua narrativa contrapõe com a cena mostrada. Ou ainda, o poeta dentro de um ônibus municipal lendo – são fatos que mostram o compromisso da direção em desmontar a aura do poeta, aqui, se metamorfoseando no contato com as pessoas.
Com colagens na película, somos colocados de frente com referências, como da atriz sueca Greta Garbo, símbolo do cinema hollywoodiano entre os anos 20 e 40 do século passado. Porém, é no centro da sua família – ele, esposa e filha, que o curta-metragem mostra um Drummond centrado nas questões familiares.
Certamente é com o close no sorriso de Drummond na parte final do filme que evoca o gauche que presenciamos nos dez minutos de projeção.
Bruno Scuissiatto
[O Fazendeiro do Ar, direção de Fernando Sabino e David Neves, 1972]
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