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PAULA STARKE
Não há como acreditar que, um dia, Literatura e Cinema se desvincularão. Desde suas origens, o Cinema busca fundamento em produções literárias diversas. Do mesmo modo, a Literatura passou a sofrer influência da construção cinematográfica, mais recentemente.
Em meio a esse constante diálogo, notam-se adaptações fílmicas consideradas medíocres que foram construídas a partir de obras-primas da Literatura universal, tal qual livros ditos “populares” acabaram se tornando longas-metragens clássicos, eternizados na memória do espectador.
Dentro deste último modelo, enquadra-se, perfeitamente, a obra do aclamado diretor Alfred Hitchcock. François Truffaut, ao entrevistar o cineasta, sugere que Hitchcock “remanejava” romances populares até que estes se tornassem verdadeiras obras hitchcockianas, o que de fato ocorria. Por acreditar que obras-primas da Literatura eram obras completas, imutáveis, Hitchcock trabalhava a partir de uma Literatura destinada à recreação, trivial.
O trabalho apresentado na Semana de Letras da Universidade Federal do Paraná pretendeu, através desta afirmação, descrever a relação do diretor com a Literatura, como Hitchcock não se atrevia a adaptar obras literárias importantes para construir cinema através de romances mais simples. E, ainda, como o diretor transformava estas modestas obras em longas-metragens enriquecedores, surpreendentes e, não raro, considerados obras de arte.
Afinal, em todas as suas produções, Hitchcock mantinha um modo próprio e independente de trabalhar. Explorava os recursos técnicos e fazia as modificações que julgava necessárias, em cada aspecto da produção. A seleção de elenco e de figurinos, os efeitos sonoros, a arte, a montagem, o roteiro e, evidentemente, a ideia condutora do longa, tudo era planejado previamente pelo cineasta.
O diretor adaptou muitas obras literárias, porém nunca pretendeu ser completamente fiel aos escritos. A ideia da obra era, portanto, um ponto de partida, um fio condutor para a versão cinematográfica. O resultado final era completamente distinto do original, uma obra prioritariamente visual. A reformulação de Hitchcock, extremamente bem planejada e realizada, usava o que o diretor chamava de “arte cinematográfica” e priorizava, evidentemente, a expressão através das imagens, o visual.
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