domingo, 19 de setembro de 2010

OS FAMOSOS E O DUENDE DA MORTE

POR FÁBIO AUGUSTO STEYER

Hoje pela manhã, durante a programação do II Simpósio Internacional Diálogos na Contemporaneidade, na UNIVATES, em Lajeado - RS, tive a oportunidade de participar de debate com o escritor Ismael Caneppele, autor do livro "Os famosos e o duende da morte", cuja adaptação cinematográfica, de mesmo nome, tem arrebatado prêmios e mais prêmios por onde passa, em todo o mundo.
O jovem escritor, na sua fala, instigou a platéia sobre uma série de temas extremamente importantes no mundo contemporâneo. Os prós e contras da internet, com seus "tempos líquidos e espaços fluídicos", a necessidade de rever o conceito de literatura no mundo das novas tecnologias, a importância de o meio acadêmico (no caso, a UNIVATES) dar espaço a um autor que (ainda) não é canônico, etc.
Também assistimos ao filme, certamente a melhor experiência cinematográfica que tive neste ano de 2010.
Não é à toa que ele tem recebido tantos prêmios...
O enredo: um adolescente que mora numa cidade de interior se sente completamente deslocado daquela realidade, de onde quer fugir. Os planos longos e fixos, com lentos movimentos de câmera, a neblina, os silêncios e a opção da direção de fotografia e da trilha sonora do filme dão o tom perfeito para essa opressão. Três gerações se contrapõem: a do adolescente, a da mãe e a dos avós, que vivem todos numa cidade de imigração alemã no interior do Rio Grande do Sul.
É a Lajeado da adolescência de Ismael, como ele mesmo diz, com todas as suas experiências e vivências. Quem é do Vale do Taquari (meu caso) reconhece o "espírito" da região na própria composição da montagem, e também em questões mais óbvias como o típico sotaque dos descendentes de alemães que vivem na região, as locações e a voz de Paulo Rogério, locutor da Rádio Independente, noticiando os falecimentos do dia. Mas o filme poderia se passar em qualquer lugar do mundo. Suas personagens poderiam estar "vivendinho" nos Campos Gerais do Paraná, por exemplo. É universal, tanto na temática quanto na forma com que se utiliza da linguagem cinematográfica para questionar coisas fundamentais do ser humano.
Restam três opções para a personagem principal sair daquele mundo que a oprime: navegar pela internet, sair da cidade pela estrada (atravessar a ponte) ou então se suicidar, na  mesma ponte, que serve de cenário para boa parte do filme...
O belíssimo plano final não nos dá resposta alguma. Especialmente se esperamos uma resposta definitiva.
Resta dizer, conforme afirma o próprio autor do livro, que o mais importante da obra é a seguinte frase:
"Estar perto não é físico."
Será?
Cabe ao leitor refletir.
O certo é que é impossível ficar indiferente a esta magnifíca experiência cinematográfica.
Vou correndo comprar o livro... 

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