sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sem Poirot para elucidar





Bruno Scuissiatto


Os mistérios são um dos argumentos que movem a nossa imaginação. Cotidianamente ou não, temos uma breve percepção dos espaços preenchidos pelos enigmas – nas passadas apressadas atrás da própria sombra na infância ou deslocando nosso olhar para encontrar uma solução aritmética em uma avaliação de matemática no ensino fundamental. Aumentando os anos e parafraseando o poeta Mário Quintana, a adultice é uma invenção. Abstraia-se com as imagens e movimentos do cinema e se permita ser mais um dos personagens. Esse é o convite do Cinemas e Temas.
A inovação, se é que esta palavra ainda pode ser usada em um mundo que torna a obsolescência maratonista de 100m rasos, marcou o ciclo “Agatha Christie” do Cinemas e Temas. No decorrer do projeto, que já teve os ciclos – A morte no cinema e a mitologia no cinema, pela primeira vez os filmes exibidos foram baseados ou adaptados de romances homônimos de uma mesma escritora, no caso, Agatha Christie. Neste caso cabe um comentário pertinente a historiografia literária da escritora inglesa, que muitas vezes é descrita apenas como mais uma dentro do imenso universo de autores de romances. Nem mesmo as peças de teatro a salvam muitas vezes da ira desenfreada de críticos e deuses do olimpo canônico. Como afirma o escritor e crítico literário Miguel Sanches Neto em seu ensaio “Uma erótica da escrita”: A crítica deve abrir mão de seus conceitos centrípetos e passar a contemplar os grandes narradores que souberam falar ao “Querido Leitor”, autores excluídos do cânone da modernidade por conta de uma lógica perversa: se eles tem leitores, não precisam de consagração critica.
Não muito diferente a linhagem pura do cinema faz algo parecido com a da literatura, normalmente tornando cult aqueles filmes que conseguiram despontar ao largo dos anos. Porém, se a película tem um viés pop, atrelado ao sucesso comercial na receita multiplicada pelo número de espectadores não pode fazer parte do cânone cinematográfico. Será pecado isso?
Com a extensa obra de Agatha Christie não seria diferente a quantidade excessiva de filmes derivados das criações da escritora, ainda mais quando precisamos reforçar que o cinema desde sua consolidação tem como uma das características essa busca incessante nas questões do fomento literário.
Ao levar a este ciclo do Cinemas e Temas - “Assassinato no Expresso do Oriente” (1974) e “Testemunha de Acusação” (1957), por mais que as produções tenham um abismo de quase duas décadas em seus lançamentos, é nítida a aproximação entre elas, principalmente no que tange a montagem. “A Casa do Penhasco” (1989), um dos episódios baseados na obra da autora tem o lado pop avassalador, principalmente pela presença do imponderável investigador Poirot. A fotografia causa impacto e transforma “A Morte no Nilo” (1978)em um filme que alterna o formato pop com o cult - por mais que certos manuais ainda não permitam tal deifinição.  O ponto iconoclsta dentro do ciclo é certamente a presença de “Assassinatos a Bordo” (1964) com a presença certamente da espiã mais bonachona do imenso universo de personagens criados por Agatha Christie, a  impagável Miss Marple, neste caso interpretada de forma sublime pela atriz Margaret Rutherford.
Para uma plateia com certa timidez em responder aos comentários ao final das sessões, ficou clara a proposta do projeto, exibir, discutir e permitir a visualização de olhares múltiplos sobre o cinema, inclusive trazendo a projeção de curtas metragens, destacando esse fecundo gênero fílmico tão inovador e experimental.
Ao coordenar o ciclo tive a impressão que a conclusão de forma correta somente ocorreu pelo desenvolvimento de toda equipe. Cada um se doando de uma forma - Carol, Amanda, Fernando, Flávia, Isadora e Paula com suas percepções levadas a todos os presentes. Ao Giovan pela imensa contribuição, isso se tornando um fato corriqueiro desde sua entrada no projeto. E, a Néia, que estreou de forma destacável nos trabalhos. Além da Celine e da Mayra presentes e confiantes no que é o projeto proporciona. Enfim, ao professor Fábio por nos proporcionar o incentivo a pesquisa e aprendizado constante.
Quando os Lumière criaram o cinematógrafo provavelmente não imaginariam a repercussão que provocariam em torno das questões do cinema e seus temas. O Cinemas e Temas com seus ciclos proporcionam ao cinema novos rumos da discussão e da pesquisa, contribuindo para a comunidade acadêmica da UEPG e pontagrossense ainda a deriva de um local único de projeções fílmicas.
Que venha o próximo ciclo – Hitchcock nos aguarda.





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